A análise dos think tanks E+ Instituto de Transição Energética e Agora Indústria defende a priorização do uso do hidrogênio na indústria para aplicações “sem arrependimento”, ou seja, onde outras opções como eletricidade de fontes renováveis ou biomassa e derivados não são uma opção.
A visão é que o país deve aproveitar o máximo possível a eletrificação a partir de sua matriz predominantemente renovável e encarar o hidrogênio de forma complementar, onde o uso direto de eletricidade renovável é inviável. “A energia renovável deve ser priorizada para a geração de eletricidade e não de H2”, diz o estudo publicado na última semana.
Para o E+, faz mais sentido aumentar a eletrificação e o uso de biocombustíveis na indústria, nas edificações e nos transportes em médio e longo prazo como estratégia de descarbonização.
No setor de transportes, por exemplo, onde algumas montadoras desenvolvem veículos movidos a células a combustível hidrogênio, o estudo aponta que tecnologias mais maduras – como o etanol – podem limitar o potencial de crescimento desse mercado.
“Biocombustíveis são a principal estratégia para a descarbonização do transporte no Brasil, inclusive com o desenvolvimento de células a combustível etanol. No longo prazo, a eletrificação de parte do setor pode complementar o papel dos biocombustíveis”, explica.
Já no transporte pesado e de longa distância feito por caminhões, em que a eletrificação é mais desafiadora e o uso de H2 é visto como uma alternativa, a falta de infraestrutura pode ser uma barreira à disseminação da tecnologia.
Onde o H2 faz sentido?
Ferro, aço, combustíveis sintéticos, fertilizantes e produtos químicos: esses são produtos elencados como os com maior potencial de aproveitamento do hidrogênio produzido pelo Brasil. Segundo o estudo, são indústrias que consomem muita energia e, consequentemente, emitem muitas toneladas de gases de efeito estufa.
Com a pressão internacional por produtos menos agressivos ao meio ambiente aumentando, o Brasil pode se posicionar como um grande fornecedor de ferro e aço verdes, por exemplo, enquanto reduz sua dependência por fertilizantes para produção de alimentos. O país também poderia fornecer e-metanol e amônia para abastecer o transporte marítimo, além de combustível sustentável para a aviação (SAF).
“Esperamos que o hidrogênio de baixas emissões possa servir de base para a neoindustrialização verde do Brasil, promovendo o nosso desenvolvimento socioeconômico e permitindo que o país dê uma contribuição significativa para a transição energética global”, resume a diretora-executiva do Instituto E+, Rosana Santos.
Corrida com obstáculos
O potencial brasileiro para geração eólica e solar tem atraído a atenção de investidores para desenvolver projetos de hidrogênio, muitos deles visando a exportação para Europa. Já são mais de 50 projetos mapeados pela Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), com potencial de trazer R$ 70 bilhões para a economia nacional até 2030.
Para sair do papel, no entanto, esses investimentos precisam de um marco legal que dê segurança jurídica – e há duas propostas em análise pelo Congresso Nacional. Mas há uma série de outras questões no planejamento energético que precisam de atenção.
De acordo com o E+, os desafios vão desde planejamento intrassetorial em áreas como energia, indústria, transporte, infraestrutura e meio ambiente; até boas condições de governança que viabilizem novos investimentos, passando pelo aproveitamento eficiente dos recursos energéticos regionais.
“A viabilidade desse desenvolvimento também está ligada ao fato de que o hidrogênio de baixa emissão deve ser considerado no país não apenas do ponto de vista energético, mas também por sua importância em termos de mudanças climáticas, o que abre a possibilidade de combinar instrumentos de financiamento das duas áreas”, completa.
Fonte: EPBR – 23/04/2024