Próxima geração de carros no país será híbrida a etanol

O Centro Tecnológico da General Motors em São Caetano do Sul (SP) se prepara para desenvolver dois modelos de carros híbridos, os primeiros eletrificados da GM que poderão ser abastecidos com etanol. A adesão da montadora, terceira no mercado brasileiro, deixa clara a tendência de a próxima geração de carros fabricados no Brasil ser majoritariamente formada por híbridos a etanol.

Os novos projetos absorverão a maior parte do investimento de R$ 5,5 bilhões que a montadora destinará às operações em São Paulo, principalmente em São Caetano, onde está a sua maior fábrica no país e também o centro que desenvolve veículos para toda a região. Os recursos fazem parte do ciclo total de R$ 7 bilhões, anunciado pela companhia em janeiro para o período entre 2024 e 2028.

No início, a GM ficou fora da onda do híbrido a etanol. A opção, seguindo orientação da matriz, era pelos modelos 100% elétricos (os que precisam ser carregados em tomadas), independentemente do mercado.

Mas, em julho, durante o anúncio de quanto dos novos investimentos irá para a fábrica de Gravataí (RS), o presidente da GM na América do Sul, Santiago Chamorro, disse que a empresa mudou de rumo para atender à necessidade do consumidor brasileiro.

Ir direto para o 100% elétrico, um modelo mais caro, significaria deixar de fora boa parte dos consumidores que hoje compram carros da GM, dona de 12,78% do mercado brasileiro de veículos leves no acumulado até agosto.

Na quarta-feira (4), ao anunciar ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a parte do investimento destinada a São Paulo, Chamorro explicou que os primeiros modelos com a nova tecnologia serão do tipo híbrido leve. Ou seja, o tipo de híbrido em que o motor elétrico ajuda o motor a combustão na tração do veículo. Mas nunca funciona sozinho. Segundo o executivo, isso “permitirá o acesso à nova tecnologia a um maior número de consumidores”.

Chamorro não estava sozinho. Dois executivos da companhia vieram de Detroit para acompanhar o anúncio. Numa rápida entrevista, Rory Harvey, presidente de mercados globais, disse que o avanço das vendas de carros 100% elétricos depende da infraestrutura de recarga de cada país. Já Shilpan Amin, presidente da divisão internacional, disse que a GM não se preocupa com o avanço das marcas chinesas na oferta de produtos elétricos: “Essa concorrência está em todo o mundo”.

A GM se torna, assim, a quarta montadora a anunciar a produção de híbridos a etanol no Brasil. A pioneira foi a Toyota, que fabrica a chamada linha híbrida flex desde 2019. Mais recentemente, a CAOA Chery também incluiu a possibilidade de usar etanol em carros híbridos. A Stellantis promete lançar o seu primeiro ainda neste ano.

A GM não detalhou a distribuição do investimento destinado a São Paulo. Além de São Caetano, a empresa tem uma fábrica de veículos em São José dos Campos, uma unidade que produz peças estampadas em Mogi das Cruzes, um campo de provas em Indaiatuba e um centro logístico em Sorocaba.

Mas Chamorro confirmou a conta lógica de subtração que indica que para Joinville (SC), onde são feitos motores, serão destinados R$ 300 milhões.

Faltou, no encontro com o governador, combinar a devolução de créditos tributários que o Estado deve às montadoras. Chamorro diz confiar que essa questão será acertada em breve. À Volkswagen, Freitas garantiu publicamente a devolução de R$ 1 bilhão em ICMS.

A direção da GM não revelou quando vai lançar o primeiro híbrido. Enquanto isso, o mercado brasileiro de eletrificados (híbridos e elétricos) continua em ascensão. Em julho, o volume acumulado de vendas desses veículos (94,6 mil unidades) ultrapassou o total vendido durante todo 2023 (93,9 mil), segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).

A frota brasileira de híbridos e elétricos passa de 300 mil veículos, volume pequeno se comparado com o total – 44,6 milhões de carros e comerciais leves. Mas a maioria é de gerações já antigas. Segundo o último estudo de frota do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes (Sindipeças), um terço dos carros que rodam no país tem entre 11 e 15 anos.

Valor Econômico – 05/09/2024