A sanção do projeto de lei do “Combustível do Futuro”, oficializada nesta terça-feira (8), abriu espaço para a Raízen, uma das maiores produtoras de etanol do país, usar a “criatividade”. Presente à solenidade de sanção, o CEO da companhia, Ricardo Mussa, disse ao Valor que uma das ideias em gestação é a “exportação indireta” de energia solar e eólica.
Isso aconteceria, de acordo com o executivo, por meio da eletrificação das usinas com o uso de energia gerada pelo sol e pelo vento. Como esses equipamentos são movidos hoje com energia produzida pelo bagaço de cana, o plano seria usar essa biomassa que não seria mais utilizada para produzir e exportar etanol.
O etanol produzido a partir do bagaço da cana, conhecido como etanol “de segunda geração”, foi um dos produtos atendidos pelo projeto de lei sancionado nesta terça-feira. Líder global no segmento, a Raízen anunciou investimentos de R$ 11,5 bilhões na construção de nove unidades produtoras de etanol de segunda geração.
“Hoje, de 70% a 80% da biomassa que tenho na nossa produção agrícola são utilizadas para rodar a própria usina. Então, existe uma linha que é eletrificar o processo produtivo, pegar o excedente que o Brasil vai ter de solar e eólica e usar isso para rodar a usina. Aí você pega o bagaço que vai sobrar, transforma em etanol que pode viajar para a Europa”, explicou.
Essa seria, segundo Mussa, uma forma “indireta” de exportar energia eólica e solar e consolidar o Brasil como o grande exportador de energias renováveis. “A eletrificação é algo que não demandaria grandes desafios tecnológicos, é algo mais simples. São muito mais as questões comerciais e de regulamentação, mas a lógica é boa”, disse ele.
PL do Combustível do Futuro
O processo de regulamentação do PL do Combustível do Futuro, na avaliação do executivo, também será fundamental para garantir o sucesso dos investimentos prometidos. Além da Raízen, outras cinco empresas anunciaram investimentos durante a solenidade, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de vários ministros.
“O maior ganho do Combustível do Futuro é a gente ter mais horizonte para fazer os investimentos, coisa que era mais difícil antes. Você começa a ficar mais corajoso para fazer mais investimento”, disse Mussa, ao sinalizar que a empresa pretende chegar à marca de 20 unidades produtoras de etanol de segunda geração.
“É tecnologia verde e amarela, tecnologia nossa”
Ele também falou sobre a necessidade de o Brasil aproveitar o fato de ser anfitrião de eventos como o G20 e a COP30 para consolidar sua posição de grande exportador de energia limpa do mundo. Além disso, destacou a oportunidade de exportar não apenas a energia, mas a tecnologia para produzi-la.
“Não é tecnologia verde. É tecnologia verde e amarela, tecnologia nossa. Em quais setores o Brasil é exportador de tecnologia? São poucos. Hoje, nós estamos discutindo nos Estados Unidos, na Índia, na Austrália e na Tailândia exportar não só o nosso etanol, mas exportar a tecnologia”, completou o diretor-presidente da Raízen.
Fonte: Valor Econômico – 10/10/2025